Onde
está meu sol?
Preciso de calor, preciso florescer.
Onde está meu sol?
Tenho minha lua, tenho minhas estrelas,
Mas por que não tenho meu sol?
Para onde ele foi?
Ele me deu a Vida.
Ele deve me ver crescer.
Brotam as folhas...
Passam as primaveras...
E meu sol onde está?
Súbito,
vejo raios de luz.
Ele aparece como um Deus
E parece estar surpreso.
Reaver o tempo perdido?
Não! Palavras doem, ser sol!
E os atos também!
Volta para tua escuridão.
E esquece de mim. Esquece!
Insistentes
reaparecem os raios.
Aos poucos floresço melhor.
Sem sol, era a metade de mim.
Completo, deixo de ser a breve árvore
Que, na minha vida outonal,
Fruto nenhum podia dar.
A década de 1960 foi, sem dúvidas, uma das mais importantes para a reafirmação do conceito de "arte" ao cinema. Na França, a Nouvelle Vague era aplaudida e já estendia sua influência para o resto do mundo; na Polônia, um certo diretor aparecia como um grande inovador do cinema europeu, seu nome: Roman Polanski. Após ter dirigido obras clássicas como "Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965)", o polonês se insere no cinema Hollywoodiano e resolve, felizmente, adaptar o livro de terror psicológico do escritor Ira Levin, intitulado "O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968)".
O filme narra a jornada feminista e maternal de Rosemary (Mia Farrow), uma mulher que após se mudar com seu marido, Guy (John Cassavetes) para um novo apartamento a fim de estabilizar a vida matrimonial, se vê inserida numa realidade adversa da que estava acostumada. Os dois se aproximam de um casal de idosos um tanto esquisitos e "simpáticos demais", o que leva a esposa a desconfiar da sua índole. Quando enfim o psicológico da protagonista norteia a obra, Rosemary está grávida e desconfiando que haja uma conspiração entre o casal idoso e alguns amigos com o intuito de roubar o seu filho.
O roteiro adaptado pelo próprio diretor e baseado no livro de Ira Levin nos faz adotar a realidade/fantasia da personagem principal, adoção apoiada na caracterização de Rosemary como mártir e o seu amplo ceticismo acerca dos atos das pessoas que fazem parte do seu círculo de amigos. A força maternal é esbravejada na película como uma capacidade inerente à mulher que, independente do sofrimento que esteja passando, preocupa-se primeiramente com a saúde do filho que está prestes à dar a luz. O terror permeia a obra através das dúvidas da protagonista quanto à bruxaria utilizada pelo casal de idosos e o satanismo presente quase que no fim daquela.
Mia Farrow pinta de modo interessantíssimo uma das personagens mais inesquecíveis de todos os tempos, o ícone da maternidade, a força do feminismo, e a luta pelo seu ideal; John Cassavetes é mais contido e ainda assim dá um show de interpretação e enaltece a excelente coesão que existe entre a dupla. O casal de idosos interpretado por Ruth Gordon (vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante) e Sidney Blackmer também recheiam o elenco com muita ousadia. Tudo isso confere ao filme uma aula de interpretação, onde os quatro atores principais conseguem mantê-lo sempre em altíssimo nível.
Roman Polanski dispensa qualquer tipo de apresentação, tão famoso pelo seu trabalho (e por que não pela sua vida pessoal?), ele nos insere em um dos maiores clássicos de horror da história do cinema e, de modo ímpar, dirige seus atores com uma maestria indefinível. A câmera de Polanski, repleta de tensão, nos mostra sequências soberbas que acompanham os passos de Rosemary, algumas outras apoiadas na singular trilha-sonora que casam perfeitamente com a linearidade que se dá no decorrer da produção.
Considerado como clássico do terror, o filme é ainda hoje base para tantos outros do gênero, para tal, Polanski resolveu nos apresentar uma obra limpa, fria e de valor incomensurável. A personagem Rosemary virou "figurinha carimbada" e o elevou ao status de gênio que ele já vinha adquirindo há algum tempo. É inegável que o diretor polonês realizou uma grande produção, e mais inegável ainda é a sua capacidade de levar à tela aquilo que sempre esperamos de um grande diretor: uma obra-prima.
A disputa territorial entre Palestina e Israel continua a ser tema certo nos noticiários mundiais. O impasse, que remonta do final do século XIX, possui diversas formas de ação contra o inimigo, dentre elas os famosos "homens-bomba", termo usado em alusão ao suicida que se prende a uma bomba letal com o intuito de matar uma certa quantidade de soldados do "outro lado".
"Paradise Now (idem, 2005)" narra um momento particular na vida dos amigos de infância Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman): a missão de honrar a Deus. Para que isso aconteça, ambos deverão participar de um ataque terrorista em Tel Aviv, onde a intenção é atuar como homens-bomba e destroçar uma certa quantidade de soldados israelenses. Apesar de ainda haver dúvida sobre a necessidade da missão, a dupla resolve fazê-la, porém algo inesperado acontece, um grupo de soldados percebe a presença dos palestinos e os impede de entrarem no território inimigo. Os amigos se separam e uma confusão psicológica parece tomar conta de Said que, perdido, vaga pelas ruas em busca de "razão". Khaled o reencontra, junto de Suha (Lubna Azamal) - a filha de um dos maiores mártires palestinos e provável paixão de Said - e todos retornam para o grupo que planejou a ação afim de ainda assim a concretizarem.
O roteiro, assinado pelo próprio diretor e por dois colaboradores (Bero Beyer e Pierre Hodgson) consegue conferir à obra cinematográfica e aos seus protagonistas um aspecto remissor, uma vez que a vida e os preceitos religiosos dos personagens principais - e homens-bomba - são reunidos e demonstrados com realismo. A luta pelos seus ideais políticos e a dificuldade para diferir o correto do errado também são temas recorrentes no roteiro do trio que, como se espera, também deixa claro qual sua opinião acerca do ato terrorista.
A direção de Hany Abu-Assad é, desde o primeiro minuto, no mínimo, intrigante, tendo em vista que o belíssimo enquadramento inicial é de deixar qualquer fã da sétima arte maravilhado, assim como a primeira sequência que percorre a chegada de Suha. Com o desenrolar da trama, o realizador parece ganhar mais confiança e nos apresenta uma visão humanista, fria e extremamente realista do terrorismo no Oriente Médio. Abu-Assad consegue ainda dirigir o seu elenco de forma única, transformando-os em cópias fiéis dos personagens preconizados no roteiro.
Paradise Now é, de fato, um dos grandes filmes produzidos no Oriente Médio na década passada, apesar de a produção cinematográfica na região ainda ser muito baixa, Hany Abu-Assad demonstrou que é possível sim realizar boas obras ainda que o local não contribua para tal. A força da luta pelo seu ideal, a realidade sentimental do atordoado terrorista e a busca pela redenção são os três maiores pilares que sustentam o filme; e é com pilares tão fortes como esses que espero, sinceramente, que o cinema palestino continue a render bons frutos ao mundo.
Para
que amendoeiras?
Eu só quero você.
Me encaixar nesse seu verso.
Ser seu céu.
Azul.
Verde.
Amarelo.
Pouco importa minha cor.
Para que amendoeiras?
As ruas não me servem.
Meu pensamento não me guia.
Poetas se tornaram obsoletos.
Sons pararam de me tocar.
Se você me toca,
Sou seu caminho.
Sou seu poeta.
Sou seu som.
Para que amendoeiras?
Com você a dor se esvai.
Meu choro seca.
Meu ser palpita.
Meu corpo anseia.
Minha veia arde.
Minha vontade aumenta.
Meu desejo explode...
... E me torno completo.