Fritz Lang, um dos diretores mais cultuados de todos os tempos, baseado nos dogmas do Expressionismo Alemão, impressiona qualquer amante da sétima arte com seu "M - O Vampiro de Düsseldorf (M - Eine Stadt Sucht Einen Mörder, 1931). A linearidade da linguagem alinhada à magistral prática do recente aparecimento do som ajuda a elevar a qualidade da obra audiovisual tendo em vista o ano de produção e os recursos escassos para que ela fosse feita.
Peter Lorre (Hans Beckert) é um assassino em série que, ao sequestrar crianças e fazê-las sumir do mapa, aterroriza a pacata cidade de Düsseldorf na Alemanha. Os seus crimes levam todos da cidade a mudar de hábito: qualquer cidadão acompanhado por com uma criança é o possível assassino; a cidade começa a ser controlada pelo medo; a polícia aumenta o número de batidas em casas e estabelecimentos; alguns negociantes, com medo de serem presos por seus negócios ilegais (pelo aumento da fiscalização policial), contratam mendigos para observarem as ruas da cidade; tudo gira em torno da busca pelo serial killer.
O roteiro de Fritz Lang foi baseado em um artigo policial sobre o assassino em série Peter Kuerten que aterrorizou a Alemanha, em especial a mesma cidade de Düsseldorf no início dos anos 1920, ao realizar roubos, estupros e homicídios. A linearidade do roteiro é algo impressionante, pois a sequência temporal dada pelo diretor em uma época tão remota para o cinema transcende o tempo. A utilização de flashbacks, algo novo e inimaginável para o ano de produção, também é fantástica. Tudo isso acompanhado de críticas sociais que até hoje são cabíveis, como por exemplo, o abuso policial junto aos cidadãos, a diferença de classes entre os negociantes e os mendigos reiterada pelo acordo entre eles, assim como a ironia do julgamento prévio das pessoas que, ainda que coniventes com outros crimes, criticam outros atos tidos como "piores".
Outro atrativo do filme é a presença do som, ferramenta inserida nas produções norte-americanas, tendo sua origem no filme "O Cantor de Jazz" de 1927. "M" foi o primeiro filme alemão a usá-la e a faz funcionar como instrumento coesivo da narrativa, auxiliando no suspense provocado pelas cenas e levando o espectador a criar uma espécie de tensão. O assobio do assassino é a grande dádiva sonora de Lang.
A direção do austríaco convence desde o início, apesar de o som ser alto em demasia (o que revela a falta de experiência no manuseio do equipamento), o famoso jogo de claro/escuro tão recorrente nas obras expressionistas, as sombras que imprimem um enaltecimento do suspense, a excelente edição (com destaque para a que paraleliza duas cenas distintas), e a belíssima visão panorâmica nos minutos finais corroboram para imortalizar o filme.
No mais, Fritz Lang conseguiu fazer algo além de seu tempo, atemporal até, uma obra que reafirma a capacidade criativa do diretor e complementa a qualidade da década de trinta. "M" ficará por tantos e tantos anos como modelo para as produções de arte do cinema mundial, e a sua escola, o Expressionismo, de fato, continuará a influenciar tantas outras produções dignas de ser cultuadas pelos amantes de uma boa narrativa.
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