domingo, 2 de junho de 2013

Crítica: M - O Vampiro de Düsseldorf (1931) de Fritz Lang

Fritz Lang, um dos diretores mais cultuados de todos os tempos, baseado nos dogmas do Expressionismo Alemão, impressiona qualquer amante da sétima arte com seu "M - O Vampiro de Düsseldorf (M - Eine Stadt Sucht Einen Mörder, 1931). A linearidade da linguagem alinhada à magistral prática do recente aparecimento do som ajuda a elevar a qualidade da obra audiovisual tendo em vista o ano de produção e os recursos escassos para que ela fosse feita.


Peter Lorre (Hans Beckert) é um assassino em série que, ao sequestrar crianças e fazê-las sumir do mapa, aterroriza a pacata cidade de Düsseldorf na Alemanha. Os seus crimes levam todos da cidade a mudar de hábito: qualquer cidadão acompanhado por com uma criança é o possível assassino; a cidade começa a ser controlada pelo medo; a polícia aumenta o número de batidas em casas e estabelecimentos; alguns negociantes, com medo de serem presos por seus negócios ilegais (pelo aumento da fiscalização policial), contratam mendigos para observarem as ruas da cidade; tudo gira em torno da busca pelo serial killer.


O roteiro de Fritz Lang foi baseado em um artigo policial sobre o assassino em série Peter Kuerten que aterrorizou a Alemanha, em especial a mesma cidade de Düsseldorf no início dos anos 1920, ao realizar roubos, estupros e homicídios. A linearidade do roteiro é algo impressionante, pois a sequência temporal dada pelo diretor em uma época tão remota para o cinema transcende o tempo. A utilização de flashbacks, algo novo e inimaginável para o ano de produção, também é fantástica. Tudo isso acompanhado de críticas sociais que até hoje são cabíveis, como por exemplo, o abuso policial junto aos cidadãos, a diferença de classes entre os negociantes e os mendigos reiterada pelo acordo entre eles, assim como a ironia do julgamento prévio das pessoas que, ainda que coniventes com outros crimes, criticam outros atos tidos como "piores".


Outro atrativo do filme é a presença do som, ferramenta inserida nas produções norte-americanas, tendo sua origem no filme "O Cantor de Jazz" de 1927. "M" foi o primeiro filme alemão a usá-la e a faz funcionar como instrumento coesivo da narrativa, auxiliando no suspense provocado pelas cenas e levando o espectador a criar uma espécie de tensão. O assobio do assassino é a grande dádiva sonora de Lang. 

A direção do austríaco convence desde o início, apesar de o som ser alto em demasia (o que revela a falta de experiência no manuseio do equipamento), o famoso jogo de claro/escuro tão recorrente nas obras expressionistas, as sombras que imprimem um enaltecimento do suspense, a excelente edição (com destaque para a que paraleliza duas cenas distintas), e a belíssima visão panorâmica nos minutos finais corroboram para imortalizar o filme.


No mais, Fritz Lang conseguiu fazer algo além de seu tempo, atemporal até, uma obra que reafirma a capacidade criativa do diretor e complementa a qualidade da década de trinta. "M" ficará por tantos e tantos anos como modelo para as produções de arte do cinema mundial, e a sua escola, o Expressionismo, de fato, continuará a influenciar tantas outras produções dignas de ser cultuadas pelos amantes de uma boa narrativa.


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