A década de 1960 foi, sem dúvidas, uma das mais importantes para a reafirmação do conceito de "arte" ao cinema. Na França, a Nouvelle Vague era aplaudida e já estendia sua influência para o resto do mundo; na Polônia, um certo diretor aparecia como um grande inovador do cinema europeu, seu nome: Roman Polanski. Após ter dirigido obras clássicas como "Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965)", o polonês se insere no cinema Hollywoodiano e resolve, felizmente, adaptar o livro de terror psicológico do escritor Ira Levin, intitulado "O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968)".
O filme narra a jornada feminista e maternal de Rosemary (Mia Farrow), uma mulher que após se mudar com seu marido, Guy (John Cassavetes) para um novo apartamento a fim de estabilizar a vida matrimonial, se vê inserida numa realidade adversa da que estava acostumada. Os dois se aproximam de um casal de idosos um tanto esquisitos e "simpáticos demais", o que leva a esposa a desconfiar da sua índole. Quando enfim o psicológico da protagonista norteia a obra, Rosemary está grávida e desconfiando que haja uma conspiração entre o casal idoso e alguns amigos com o intuito de roubar o seu filho.
O roteiro adaptado pelo próprio diretor e baseado no livro de Ira Levin nos faz adotar a realidade/fantasia da personagem principal, adoção apoiada na caracterização de Rosemary como mártir e o seu amplo ceticismo acerca dos atos das pessoas que fazem parte do seu círculo de amigos. A força maternal é esbravejada na película como uma capacidade inerente à mulher que, independente do sofrimento que esteja passando, preocupa-se primeiramente com a saúde do filho que está prestes à dar a luz. O terror permeia a obra através das dúvidas da protagonista quanto à bruxaria utilizada pelo casal de idosos e o satanismo presente quase que no fim daquela.
Mia Farrow pinta de modo interessantíssimo uma das personagens mais inesquecíveis de todos os tempos, o ícone da maternidade, a força do feminismo, e a luta pelo seu ideal; John Cassavetes é mais contido e ainda assim dá um show de interpretação e enaltece a excelente coesão que existe entre a dupla. O casal de idosos interpretado por Ruth Gordon (vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante) e Sidney Blackmer também recheiam o elenco com muita ousadia. Tudo isso confere ao filme uma aula de interpretação, onde os quatro atores principais conseguem mantê-lo sempre em altíssimo nível.
Roman Polanski dispensa qualquer tipo de apresentação, tão famoso pelo seu trabalho (e por que não pela sua vida pessoal?), ele nos insere em um dos maiores clássicos de horror da história do cinema e, de modo ímpar, dirige seus atores com uma maestria indefinível. A câmera de Polanski, repleta de tensão, nos mostra sequências soberbas que acompanham os passos de Rosemary, algumas outras apoiadas na singular trilha-sonora que casam perfeitamente com a linearidade que se dá no decorrer da produção.
Considerado como clássico do terror, o filme é ainda hoje base para tantos outros do gênero, para tal, Polanski resolveu nos apresentar uma obra limpa, fria e de valor incomensurável. A personagem Rosemary virou "figurinha carimbada" e o elevou ao status de gênio que ele já vinha adquirindo há algum tempo. É inegável que o diretor polonês realizou uma grande produção, e mais inegável ainda é a sua capacidade de levar à tela aquilo que sempre esperamos de um grande diretor: uma obra-prima.
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