segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Crítica: Paradise Now (2005) de Hany Abu-Assad

A disputa territorial entre Palestina e Israel continua a ser tema certo nos noticiários mundiais. O impasse, que remonta do final do século XIX, possui diversas formas de ação contra o inimigo, dentre elas os famosos "homens-bomba", termo usado em alusão ao suicida que se prende a uma bomba letal com o intuito de matar uma certa quantidade de soldados do "outro lado".


"Paradise Now (idem, 2005)" narra um momento particular na vida dos amigos de infância Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman): a missão de honrar a Deus. Para que isso aconteça, ambos deverão participar de um ataque terrorista em Tel Aviv, onde a intenção é atuar como homens-bomba e destroçar uma certa quantidade de soldados israelenses. Apesar de ainda haver dúvida sobre a necessidade da missão, a dupla resolve fazê-la, porém algo inesperado acontece, um grupo de soldados percebe a presença dos palestinos e os impede de entrarem no território inimigo. Os amigos se separam e uma confusão psicológica parece tomar conta de Said que, perdido, vaga pelas ruas em busca de "razão". Khaled o reencontra, junto de Suha (Lubna Azamal) - a filha de um dos maiores mártires palestinos e provável paixão de Said - e todos retornam para o grupo que planejou a ação afim de ainda assim a concretizarem.


O roteiro, assinado pelo próprio diretor e por dois colaboradores (Bero Beyer e Pierre Hodgson) consegue conferir à obra cinematográfica e aos seus protagonistas um aspecto remissor, uma vez que a vida e os preceitos religiosos dos personagens principais - e homens-bomba - são reunidos e demonstrados com realismo. A luta pelos seus ideais políticos e a dificuldade para diferir o correto do errado também são temas recorrentes no roteiro do trio que, como se espera, também deixa claro qual sua opinião acerca do ato terrorista.


A direção de Hany Abu-Assad é, desde o primeiro minuto, no mínimo, intrigante, tendo em vista que o belíssimo enquadramento inicial  é de deixar qualquer fã da sétima arte maravilhado, assim como a primeira sequência que percorre a chegada de Suha. Com o desenrolar da trama, o realizador parece ganhar mais confiança e nos apresenta uma visão humanista, fria e extremamente realista do terrorismo no Oriente Médio. Abu-Assad consegue ainda dirigir o seu elenco de forma única, transformando-os em cópias fiéis dos personagens preconizados no roteiro.


Paradise Now é, de fato, um dos grandes filmes produzidos no Oriente Médio na década passada, apesar de a produção cinematográfica na região ainda ser muito baixa, Hany Abu-Assad demonstrou que é possível sim realizar boas obras ainda que o local não contribua para tal. A força da luta pelo seu ideal, a realidade sentimental do atordoado terrorista e a busca pela redenção são os três maiores pilares que sustentam o filme; e é com pilares tão fortes como esses que espero, sinceramente, que o cinema palestino continue a render bons frutos ao mundo.


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