quarta-feira, 29 de maio de 2013

Música: Tanto Mar de Chico Buarque (1978)

O álbum "Chico Buarque" de 1978 é, obviamente, uma das melhores produções do maior compositor brasileiro, com sucessos que até hoje são considerados hinos como "Cálice", "Apesar de Você" e "O Meu Amor", a faixa escolhida para a análise de hoje é "Tanto Mar", composta pelo próprio cantor em duas versões, a faixa faz parte do rol das músicas revolucionárias de Chico e, além do cunho histórico, ela consegue conquistar pelo ritmo extremamente envolvente.


"Tanto Mar" foi composta no final da década de 1970 e relata através de quatro estrofes a vontade do eu-lírico de estar presente na tão conhecida "Revolução dos Cravos (1974)" que derrubou, com um golpe de Estado, o regime ditatorial Salazarista que reinava há 41 anos em Portugal, acabando assim com a censura e com a Polícia Política (órgão perseguidor dos opositores do regime). A música possui duas versões, onde a primeira foi censurada pela ditadura militar brasileira, e a segunda foi escrita quatro anos depois para o cd em questão e retorna à revolução de forma saudosista.

~ Primeira Versão ~


Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim.

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim.

As duas primeiras estrofes claramente citam a revolução (festa) e demonstram a felicidade do eu-lírico com ela; apesar de estar ausente, ele gostaria que o ouvinte guardasse um cravo da revolução para dá-lo de presente ou que fosse possível colher uma linda flor que brotara no jardim da "revolução". É interessante o porquê do nome "Revolução dos Cravos", segundo alguns dos vários textos que tive acesso: pela manhã, uma florista levava produtos para decorar a inauguração de um hotel, quando foi surpreendida por um soldado revolucionário que colocou um de seus cravos na ponta da espingarda, ação que levou todos os outros a fazerem o mesmo. Outro fato importante na letra é a presença do "pá" que é usado em Portugal como uma corruptela (deformação) da palavra "rapaz", como o "mah" é para os cearenses. 

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar.

A terceira estrofe fala da distância entre o eu-lírico e o português ouvinte que tornou possível o novo regime político; e com uma jogada genial, Chico cita uma das grandes frases imortalizadas por Fernando Pessoa (Navegar é preciso, viver não é preciso) e proferida em 70 a.C por Pompeu, um navegador romano, que, por falta de aparatos tecnológicos e pelo frequentes ataques corsários, tinha que escolher entre salvar a cidade romana da crise de abastecimento ou manter-se confortável na Sicília

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

O último verso mostra a diferença entre Portugal e Brasil perante à ditadura. O "Lá" refere-se à Portugal e a sua recente "primavera", o "Cá" ao Brasil, onde o eu-lírico está doente, rodeado pela censura e pela ditadura que ainda imperam, e para que a sua doença passe, é preciso, e rápido, de um cheiro de alecrim (o orvalho do mar, segundo os romanos) que com seus poderes medicinais o ajudará a se curar do mal.

~ Segunda Versão ~


Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente 
Ainda guardo renitente 
Um velho cravo para mim. 

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente 
Esqueceram uma semente 
N' algum canto de jardim.

Os dois primeiros versos da segunda versão se remetem claramente à primeira. O "renitente" expressa a sua insistência em manter o velho cravo dado na versão de 1974. O passado agora foi empregado com força e o PREC (Processo de Revolução Em Curso) foi suprimido em 1976 através de um golpe militar que visava impedir a "ameaça vermelha", o que na letra é descrito pelo primeiro verso da segunda estrofe. Apesar do fim da revolução, Chico demonstra ainda acreditar na semente posta pelos "cravos".

Canta primavera, pá
Cá estou carente 
Manda novamente 
Algum cheirinho de alecrim

O último verso também conversa com a primeira versão, visto que o eu-lírico pede insistentemente que seja mandado algum cheirinho de alecrim para que a revolução no Brasil também seja semeada e que enfim, o nosso país possa ter a sua primavera.



"Tanto Mar" é, felizmente, mais uma música que lutou contra a censura do tão horrível regime militar. Com sua referência à Revolução dos Cravos de 1974, a letra consegue marcar seu nome na história com elementos portugueses e com a genialidade do grande mestre Chico Buarque. E que venham tantos e tantos mares de sabedoria com o maior compositor nacional.


Fontes:


Meretriz da hipocrisia

Sob o céu da verossimilhança
A hipocrisia é claramente revelada, 
E a índole como os raios resvalada
Junta-se fúnebre à morta confiança.

Quando, de altiva, hipócrita rainha, 
Abusavas dos que te davam bens;
Tão tolos eram teus títeres reféns
Que, inocentes, nem espada nem bainha

Usavam no teu reino de mentiras, 
Mal sabiam que aquilo que tu miras
É chamado diamante... Dinheiro... Ouro...

E com o vislumbre do tesouro,
Súbito, largas quem te fazias feliz
E teus secos olhos te acusavam meretriz.

Em 22/01/2013

terça-feira, 28 de maio de 2013

Crítica: O Poderoso Chefão: Parte III (1990) de Francis Ford Coppola.

Dezesseis anos após a realização da Parte II da saga da Família Corleone, Coppola e Puzo se reúnem novamente, para dessa vez, fechar a trilogia. O Poderoso Chefão: Parte III (The Godfather: Part III, 1990) fala de sentimentalismo, jogos políticos com gângsters, empresários e clérigos e inaugura a luta pela redenção do protagonista.


Michael Corleone (Al Pacino) agora tenta reaver os erros do passado, mas ainda assim continua a tentar expandir seus negócios e, para tanto, resolve sair do ramo da ilegalidade e tentar limpar o nome da Família, que recentemente criou a "Fundação Vito Corleone" que se preocupa com a fome no mundo. A interação entre a Fundação e a Igreja Católica possibilita ao Cardeal Lamberto (Enzo Robutti) uma reunião onde Michael deve ajudá-lo em um déficit no Banco do Vaticano, em troca, a venda das ações majoritárias de uma das empresas mais ricas controladas pela Igreja, a "Internazionale Immobiliare". Com o negócio, as famílias americanas, se sentindo trocadas pelo agora comendador, almejam ter uma parte das ações da Immobiliare, o que causa desconforto, vários atentados e mais uma série de novos inimigos.

Sentimentalmente, Michael se sente morto. Está acabado pelo término do seu casamento com Kay Adams (Diane Keaton), procura redenção pelo que fez ao irmão Fredo e tenta educar os filhos, apesar de perder o respeito de Anthony (Franc D'Ambrosio). Suas mentiras continuam a fazer parte da rotina e, de fato, a mudança do personagem não acontece. Seu tempo está se esgotando e, Vincent Mancini (Andy Garcia), filho abastado de Santino Corleone, é o único que ainda preserva a personalidade herdada do falecido Vito, enfim, a família tem um novo Don.


O roteiro assinado novamente pela dupla Puzo e Coppola continua a mover a obra com uma magnitude gigante. O sentimental é posto em xeque, a personalidade de Michael, ainda refém da "vida da máfia" é destrinchada em público; ele queria não ter sido um gângster, mas precisava proteger quem mais amava, e isso trazia um certo preço. É impossível não comparar Michael a Vito, os caminhos escolhidos, o medo atual em troca da servidão amada de antigamente, o Don família e o Don sozinho, personagens que de início parecem ser iguais, mas se mostram completamente adversos. O ponto alto do roteiro são as cenas em que o personagem demonstra sua verdadeira fraqueza, a doença iminente, a perda que o desmonta, a passagem da chefia e a solidão que o rodeia. Roteiro grandioso para um filme grandioso, nada mais do que justo.


Apesar de Sofia Coppola (filha de Francis) ter levado o "Framboesa de Ouro" como pior atriz coadjuvante e a sua interpretação não merecer um destaque tão negativo, as atuações continuam impecáveis. Al Pacino continua a nos matar de orgulho com a tamanha força que encarna o padrinho, sem dúvidas, o personagem é dele, foi feito para ele, é inimaginável alguém no seu lugar, e o faz com tanta competência que se torna impossível colocar em palavras quão genial ele é. Andy Garcia faz o que talvez tenha sido o seu melhor trabalho até hoje, interpreta, com qualidade, o reflexo de seu pai, Sonny. Diane Keaton também imortaliza sua Kay Adams através de cenas fortes e ricas em diálogos impactantes. 


A direção de Francis Ford Coppola consegue elevar a terceira parte, o que para ele seria um epílogo, a uma terceira obra-prima, ele mostra o porquê de ser um dos diretores mais cultuados atualmente e grava o seu nome na história do cinema como um dos maiores realizadores de todos os tempos. Mestre de uma das melhores trilogias da sétima arte e senhor do submundo da "cosa nostra", Coppola consegue emocionar, tensionar e, consequentemente, nos fazer chorar por um anti-herói que continua a ser um dos maiores personagens já criados.


Há quem diga que O Poderoso Chefão Parte III é o mais fraco da saga, não ruim, apenas o mais fraco; confesso que é difícil dividir a trilogia em três filmes e dar a eles qualidades individuais, pois eles concordam entre si, convergem para o mesmo ideal e relatam, com beleza, a história da Família Corleone. 

Meus eternos agradecimentos a Mário Puzo, o criador de uma das histórias mais envolventes que já tive o prazer de presenciar; Francis Ford Coppola por ter levado a frente um ambicioso projeto e ter tornado a trilogia O Poderoso Chefão uma obra-prima; a Marlon Brando por nos ter presenteado com um padrinho imortal; e, ao meu ator favorito, meu mestre, um dos maiores do cinema, Al Pacino por ter me proporcionado um dos personagens mais intensos, por me fazer sorrir, chorar e me chatear com sua belíssima interpretação. Meus sinceros agradecimentos!


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Crítica: O Poderoso Chefão: Parte II (1974) de Francis Ford Coppola.

Manter o ritmo de uma obra-prima como a primeira parte da saga da família Corleone é, no mínimo, um desafio; e o Poderoso Chefão Parte II (The Godfather: Part II, 1974), também dirigido por Francis Ford Coppola com base no roteiro e no romance de Mário Puzo, consegue elevar ainda mais o status quo da trilogia. Tida como a melhor sequência de todos os tempos, a obra cinematográfica é repleta de sutilezas e, mais do que nunca, nos reapresenta à verdadeira face do submundo da máfia americana mais querida da sétima arte.


Concomitantemente, somos apresentados a Vito Andolini (Robert De Niro), um jovem rapaz de nove anos que, ao ter a família assassinada por um Don italiano, é ajudado por alguns conhecidos e se muda para Nova York; Andolini, renomeado na alfândega de Corleone em razão da sua cidade de origem, passa a viver em um bairro ítalo-americano, devido a alguns acontecimentos um tanto "naturais" para a saga, Vito ganha prestígio dentre os moradores e, a partir dai, seu império começa a ser formado; em outra época, Michael Corleone (Al Pacino) dá prosseguimento à história iniciada no filme de 1972, agora ele deseja expandir seus negócios para Hollywood e Havana, para tanto, necessita da "amizade" de Hyman Roth (Lee Strasberg), um velho conhecido de seu pai e dono da maior parte da rede hoteleira cubana. Entre traições, brigas de família e a revolução de Fidel Castro, o filme entra no seu clímax.


O roteiro, mais uma vez assinado por Mário Puzo e Coppola, dá uma verdadeira aula de cinema. Agora, os negócios convergem com a personalidade de Michael, que mais frio do que nunca, protege sua família de um modo um tanto adverso quando comparado ao seu pai. Poucas vezes na pelicula, observamos a reunião familiar, o que reitera a incapacidade do personagem em comungar assuntos com a família, algo que era extremamente sagrado para Don Vito. Diálogos fortes, ricos de sentimento com momentos esplendorosos. "Mantenha seus amigos por perto, e seus inimigos mais perto ainda", dizia Michael em uma das frases antológicas do filme.


Sem o brilhantismo de Brando do primeiro filme, o segundo não perde em atuações magníficas. Al Pacino se reafirma como um dos grandes atores de todos os tempos em uma atuação digna de elogios infinitos, com reações sentimentais que o comparam ao seu irmão, Santino Corleone, o personagem flutua entre o chefe de família que pensa como seus inimigos e um pai que não se controla perante à uma ofensa fraternal. Robert De Niro, outro gênio na arte de atuar, consegue fazer jus ao gângster mais querido do cinema, e com um trabalho de voz que remete automaticamente à  Brando, deixa qualquer um estupefato diante de tão grandiosa interpretação de um ator coadjuvante. 


A direção de Coppola, agora corretamente premiada pela Academia, se mantém fiel ao primeiro longa e continua a manter, junto a Gordon Willis, o diretor de fotografia, a atmosfera sombria da máfia americana. O diretor nos mostra as grandes belezas da Sicília e, em Nova York, ambienta perfeitamente duas histórias em épocas distintas sem mesclá-las e dá a cada uma seu potencial criativo e sua real atmosfera. Seu trabalho com os atores rendeu ao filme cinco indicações, onde De Niro foi premiado como coadjuvante. 


É quase impossível separar a primeira obra da segunda, elas são complementares, o primeiro necessita do segundo e este não existiria sem aquele, sendo assim, a continuação da trilogia da família Corleone mantém a qualidade introduzida pelo primeiro longa e nos faz uní-los a uma obra só graças à perfeita coesão entre elas. Sem dúvidas, novamente, fiquemos de pé para que os aplausos aos grandes realizadores soem sem barreiras e alcancem qualquer alma que necessite de um pouco mais de arte na vida. 


sábado, 25 de maio de 2013

Crítica: O Poderoso Chefão (1972) de Francis Ford Coppola.

Impossível entrar numa roda de amigos que fala de cinema e não citar "O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972)" de Francis Ford Coppola. A trilogia é baseada no livro homônimo de Mário Puzo, o primeiro romance a demonstrar a realidade da máfia, lançado em 1969, que narra a história da família Corleone, desde a sua assunção até o seu declínio. A primeira parte da trilogia será o objeto do texto de hoje.


Don Vito Corleone (Marlon Brando) é um italiano proveniente da Sicília que se instala com sua família e, além de ter apoio político e policial, passa a comandar muitos negócios ilegais em Nova York. Ele é o padrinho que todos desejam ter, que realiza o que o afilhado necessita; em contrapartida, este fica "devendo" um favor ao seu Don, que pode nunca vir a acontecer, mas caso ocorra, não pode ser negado. Don Vito é um homem ligado à família, considera-a sagrada, a preserva e cuida dela de todos os modos. Possui cinco filhos: Santino (James Caan), o sucessor da família e mestre em "agir sem pensar"; Fredo (John Cazale), ligado a prostitutas e jogos de azar; Michael (Al Pacino), herói de guerra e totalmente "civil" quando se trata dos assuntos do pai; Connie (Talia Shire), a filha única, um amor de pessoa e totalmente histérica; e Tom Hagen (Robert Duvall), o filho adotado e consiglieri (conselheiro) do seu Don.


A história toma um rumo com o surgimento de Solozzo (Al Lettiere), o rei dos narcóticos, que, apoiado pelas outras grandes famílias, almeja instalar seu negócio nos E.U.A. e para que isso aconteça, necessita da influência de Don Vito junto a políticos e chefes de polícia controlados por ele para que sejam coniventes com o tráfico. Seco, o padrinho nega o apoio e então uma guerra entre as famílias mafiosas da América começa. O clímax está instaurado.


Entre negócios, um roteiro esplendoroso, e mais negócios, vemos o surgimento de um dos maiores personagens, a meu ver, de todos os tempos: Michael Corleone, interpretado pelo mestre Al Pacino, que apesar de ser herói de guerra e não querer participar dos assuntos da família, não consegue deixar de intervir neles. A mudança do personagem, suas ações, seu aspecto e sua frieza contribuem para o enaltecimento da personalidade de Michael e, em consequência, a formação de um dos maiores ícones do cinema gângster americano.

O roteiro, assinado por Mário Puzo e revisado por Coppola, consegue convencer já nos primeiros diálogos. A caracterização dos personagens, a demonstração crua da realidade e o texto rico em conteúdo dramático, histórico e irônico são os principais feitos da dupla. O roteiro é tão clássico que até hoje se ouve falar de alguns diálogos-chave dele como o famoso "Eu acredito na América" ou o sarcástico "Vou lhe fazer uma proposta irrecusável". 


Difícil também seria citar a obra e não falar de uma das maiores e melhores atuações de toda a história do cinema. O trabalho de voz de Marlon Brando é uma coisa de outro mundo, perfeito, sem erros, com riqueza de detalhes. As cenas em que o Don aparece sempre demonstram o seu modo "padrinho" de ser, como seus poucos sorrisos sinceros, sua explosão diante de um choro ou até o seu sofrimento com a morte. Brando foi premiado com um Oscar por essa magistral atuação, e causou polêmica ao enviar uma representante indígena para discursar em seu nome como protesto pelo modo ao qual os Estados Unidos e Hollywood discriminavam os nativos americanos.

Al Pacino também se destaca dentre os demais atores, apesar de Michael ser um personagem bastante redondo, ele consegue direcioná-lo para dentro de si, tornando as ações bastante perdoáveis, e nos faz crer que o personagem foi construído pra ele (como Coppola pensava). James Caan, em uma atuação respeitável, interpreta um Sonny demasiado revoltado que vai de encontro a um Robert Duvall, em suma, contido. Diane Keaton, em uma interpretação limpa e segura, interpreta Kay Adams, a namorada de Michael, em contrapartida, a histeria faz parte da maioria das cenas em que Talia Shire, a Connie, aparece junto ao marido.


Coppola, junto à fotografia de Gordon Willis, consegue dar um ar todo sombrio ao trabalho dos gângsters norte-americanos. A falta de luz nos ambientes em que a máfia está reunida é uma clara referência à escuridão, a sujeira e ao anonimato da "profissão". No casamento de Connie, na Sicília e na maioria das cenas familiares, a luz é o foco principal, onde o diretor deixa claro que viver bem e em família é a coisa que mais pode trazer benefícios para os mafiosos. O direcionamento dos personagens também é trabalho do diretor que o consegue fazer com maestria proporcionando ao filme quatro indicações para os atores ao Oscar de 1973 (Pacino, Brando, Duvall e Caan).

A grandiosidade do filme chega a impressionar, pois a direção impecável alinhada ao roteiro visceral e à atuações magníficas proporcionam ao amante da velha Sétima Arte um êxtase incomparável, algo extraordinário, extra-corporal. Puzo, Coppola, Brando, Pacino, enfim, todos os envolvidos na película merecem aplausos e aplausos de pé por serem responsáveis por uma das grandes obras-primas do cinema.




sexta-feira, 24 de maio de 2013

Cautela

Mutável e sôfrega persona, insisto:
Teus velhos amigos preserva,
Incapazes eles de retirar o cisco
Do teu olhar de indiferença deveras.

Se mudar é um ato inacabado,
Interminável e desapercebido,
Torce para que indeterminado
Não seja o sentimento do velho amigo.

Caso permitas a ausência de cor
E cause na alma demasiada dor,
Espera! O abismo não tarda!

Pois o antes amigo, com fervor,
Ignorado e sem brando pudor,
Faz em chama com que tua vida arda.

Em 25/11/2012

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Música: Carta de Amor de Oásis de Bethânia (2012)


"Oásis de Bethânia" é o 50° álbum da cantora baiana Maria Bethânia, com composições de Chico Buarque, Lenine e Djavan, o cd converge para a penúltima faixa, "Carta de Amor", escrita pela própria cantora e por Paulo César Pinheiro. Nas palavras da própria Abelha-rainha: "A música é uma carta de amor à mim mesma, eu me escrevendo para me livrar de demônios, angústias, dores, mágoas". Ainda em entrevista, a intérprete afirma que a música "Calúnia", composta por Mário Pinto e Paulo Soledade, e eternizada na voz de Dalva de Oliveira, seria um bom prólogo para esta canção.
Calúnia (Mário Pinto e Paulo Soledade)
"Quiseste ofuscar minha fama e até jogar-me na lama só porque eu vivo a brilhar. Sim, mostraste ser invejoso, viraste até mentiroso só para caluniar.Deixa a calúnia de lado se de fato és poeta, deixa a calúnia de lado que ela a mim não afeta. tu me ofendes, tu serás o ofendido, pois quem com o ferro fere, com ferro será ferido." 

De fato, "Carta de Amor" expande o sentido de "Calúnia", comecemos a identificar os elementos da primeira a partir das duas primeiras estrofes:

                                                                            ~ 1 ~

"Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Eu tenho Zumbi, Besouro, o chefe dos tupis,
Sou tupinambá, tenho os erês, caboclo boiadeiro,
Mãos de cura, morubixabas, cocares, arco-íris,
Zarabatanas, curare, flechas e altares
À velocidade da luz, no escuro da mata escura, o breu, o silêncio, a espera.
Eu tenho Jesus, Maria e José, todos os pajés em minha companhia,
O Menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos, o poeta me contou."


Na primeira parte da música, Bethânia, em tom imperativo, ameaça seus males para que não cheguem perto, pois ela está protegida por vários seres, inanimados, lendas e até deuses. E muito bem protegida, diga-se de passagem:

Zumbi
Zumbi foi o último líder de resistência negra no Quilombo dos Palmares, o maior do período colonial; a data de sua morte foi adotada como dia da consciência negra.

Erês
Manuel Henrique Pereira, o Besouro Mangangá, foi o maior símbolo da capoeira baiana, segundo a lenda, seu corpo era fechado, balas e punhais não podiam feri-lo. A relação entre besouro e “chefe dos tupis”, creio que seja estilística, visto que a palavra tupi significa besouro em português. 

Os Erês são espíritos que trabalham em sua grande maioria na linha das almas. No processo evolutivo, a maior parte desencarnou ainda criança e optou pela continuidade na linha evolutiva mantendo as mesmas características.
Caboclo Boiadeiro

O Caboclo Boiadeiro faz parte de uma das mais importantes linhas da Umbanda, que é composta por homens que na vida trabalharam com gado e depois de desencarnados, em vez de laçar e guiar seu rebanho, são espíritos mais endurecidos, obsessores.

Morubixaba é o termo em tupi que designa o chefe a tribo, o cacique. 

O curare é um veneno extremamente forte presente nas flechas nos indígenas.



                                                                          ~ 2 ~

"Não misturo, não me dobro.
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo,
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim.
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpo,
Garante meu sangue, minha garganta.

O veneno do mal não acha passagem

E em meu coração Maria acende sua luz e me aponta o Caminho.

Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã, giro o mundo, viro, reviro.
Tô no recôncavo, tô em Fez.
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma, traço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de João menino, rezo com as Três Marias, vou além, me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas, durmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos vulcões, corpo vivo de Xangô.

Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou, que o santo me leva
É por onde eu vou, que o santo me leva"

Na segunda parte da música, o eu-lírico enaltece os nomes dos seus orixás, como a Rainha do Mar, Iemanjá; afirma que está sob proteção deles e que isso o impede de andar no breu e na treva; é aprendiz de Iemanjá protegido pelo ouro de Oxum; segue o caminho dito por Maria ao tocar seu coração; viaja no raio de Iansã como o vento que banha o Recôncavo Baiano e Fez no Marrocos; transforma-se em estrela; descansa em elementos naturais; dorme no trabalho de Ogum e mergulha no corpo de Xangô, orixá do fogo. Tais estrofes só demonstram a capacidade de quebrar a barreira do impossível que o eu-lírico adquire através de seus deuses.

Oxum
Iansã
Oxum é uma orixá do candomblé que veste dourado e reina sobre: a água doce dos rios, o amor, a beleza, a intimidade, a riqueza e a diplomacia.

Iansã é uma orixá guerreira por vocação, sabe ir a luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio e de uma chuva.

Fez é uma cidade localizada no centro-norte do Marrocos, onde a  universidade mais antiga do mundo está localizada.
Na cultura católica, Isabel estava grávida de São João Batista e combinou com Maria, sua prima, que ao ocorrer o parto, acenderia uma fogueira num monte para comunicar a boa nova.
As Três Marias é um nome popular dado a um asterismo de três estrelas que formam o cinturão da constelação de Orion, o caçador.

Ogum
Xangô

Ogum é o orixá ferreiro, o senhor do metais. Ele mesmo forjava suas ferramentas tanto para a caça, como para a agricultura e para a guerra.

Xangô é o orixá dos raios, trovões e do fogo, é viril e atrevido, castiga os mentirosos, os malfeitores e os ladrões.




                                                                            ~ 3 ~

"Medo não me alcança.
No deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo.
Meus pés recebem bálsamos, unguentos suaves das mãos de Maria
Irmã de Marta e Lázaro, no Oásis de Bethânia.
Pensou que eu ando só, atente ao tempo. Não começa, nem termina, é nunca é sempre.
É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra, fulmina o injusto, deixa nua a Justiça.

Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão,
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não"

Maria de Betânia, Marta e Cristo
Na terceira parte da canção, Bethânia fala do que ela mesma pode fazer, apesar de não estar só, ela também é um ser perigoso, pois é capaz de fazer os animais realizarem coisas improváveis e até impossíveis. Se equipara a Cristo e realiza um belíssimo jogo estilístico entre o nome do álbum de trabalho e a localização da morada de Maria (Betânia), Irmã de Marta e Lázaro. Para ela, o tempo é o momento para se reparar o grande erro da riqueza, onde a justiça inexiste e os ricos ferem os pobres.

Maria, irmã de Marta e Lázaro, ou Maria de Betânia é um personagem do Novo Testamento, foi ela que ungiu com óleo os pés de Jesus Cristo seis dias antes da páscoa.


                                                                             ~ 4 ~

Onde vai valente?
Você secou, seus olhos insones secaram, não veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira.
Seus ouvidos se fecharam à qualquer música, qualquer som, nem o bem, nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe.

Você pisa na terra mas não sente, apenas pisa.

Apenas vaga sobre o planeta, e já nem ouve as teclas do teu piano.

Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem alma.
Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.

O que é teu já tá guardado.
Não sou eu que vou lhe dar,
Não sou eu que vou lhe dar,
Não sou eu que vou lhe dar.


Na quarta parte da música, o eu-lírico ataca seu ouvinte ao dizer que este é incapaz de ver, de ouvir e de sentir, pois a sua alma não existe mais, está tão murcho, tão pobre, tão definhado que nem o diabo o deseja. No estribilho, a ameaça continua, dando a entender que os deuses protetores farão o ouvinte pagar pelos seus atos.
                                                                                                  ~ 5 ~

Eu posso engolir você, só pra cuspir depois.
Minha fome é matéria que você não alcança.
Desde o leite do peito de minha mãe, até o sem fim dos versos, versos, versos, que brotam do poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi.
Se choro, quando choro, e minha lágrima cai, é pra regar o capim que alimenta a vida, chorando eu refaço as nascentes que você secou.

Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio.

Vivo de cara pra o vento na chuva, e quero me molhar.

O terço de Fátima e o cordão de Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta.

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe comigo!


Na última parte da canção, Bethânia começa atacando seu ouvinte, mas logo foca em se reafirmar novamente. Ela diz que sua fome é impossível de ser alcançada pelos seus males, suas mágoas, desde o alimento maternal de Dona Canô, sua mãe falecida esse ano, até a infinidade de versos compostos pelo poeta que há em si mesma, tudo isso abaixo, claro, da luz da lua que personificadamente deita na inspiração de Dorival Caymmi, seu mestre e, compositor de músicas que comungavam com a cultura baiana. Os últimos versos são os meus preferidos e estão tão claros que seria repetitivo analisá-los. 

Dorival Caymmi foi um cantor, compositor, violinista, pintor e ator brasileiro. Compôs sobre os costumes, os hábitos e as tradições do povo baiano com influência da música negra.



"Carta de Amor" é o grito de fé de uma mulher, de um ser que roga para que o mal, as tristezas, os devaneios e os próprios demônios se mantenham distantes. O texto, maravilhoso por sinal, é repleto de elementos da cultura baiana, indígena, da religião católica e do candomblé, fato que me faz admitir que Maria Bethânia é uma escritora de mão-cheia. Infelizmente, ela não usa esse dom tão singular frequentemente para suas composições, o que a torna, como ela própria se julga, uma cantora popular. Que fique registrado meu apelo para que a Abelha-rainha continue nos deliciando com produções como esta, magnífica em poesia e extraordinária em sentimento.

Fontes:

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Discurso de despedida do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros em 2011.


E o tempo passa. Ao longo de 11 anos escrevemos nossa história no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros, passamos por alegrias, por dificuldades, por sorrisos e principalmente por um processo significativo na nossa vida. Isso não significa que essa vida acaba no Terceiro Ano do Ensino Médio, mas sim que o primeiro passo para a autorrealização foi dado. Dói ao saber que não teremos mais a rotina que nos era exigida. Alguns podem até dizer que enfim estão livres das formaturas matinais, dos 7 de Setembro etc, mas tenho certeza que isso também fará falta, assim como afirmo que sempre que virem alguém em forma, lembrarão dos tempos em que aquilo era uma obrigação e aquela vontade de fazer parte do pelotão será tão forte que gritaremos ao mundo: Eu fiz parte disso!

O primeiro dia no colégio todo mundo lembra! Aquele muro vermelho que trazia um ar de responsabilidade e provocava certo medo do regime. Ao entrarmos, percebemos que estávamos em outro mundo e que ali tudo seria diferente do que nós, calouros, conhecíamos. Aquela farda: Calça jeans e camisa branca. Ninguém gostava dela, mas não pela sua beleza, mas sim porque sonhávamos com aquele uniforme de Trânsito e aquela boina. Aquela farda que aumentaria o nosso ego e nos tornaria mais belos.

Aos poucos fomos conhecendo nossos amigos, criando um vínculo e que, até hoje, com alguns perdura. Corremos pelo pátio, trocamos lápis-de-cor, nos apaixonamos por coleguinhas de sala e crescemos. Brincamos um pouco mais, conhecemos um pouco mais da vida, passamos por alguns professores, Fizemos parte do Projeto Botinho, fomos até a sala da Tia Ilca (Cá pra nós, sempre dava medo ir à sala dela). Trocamos merenda, furamos fila, frequentamos a aula de Multimeios, mechemos no paint no laboratório de informática e crescemos. Em um pulo... Estávamos no Fundamental 2.

E a 5° série chegava e a nossa estadia chegava pouco a pouco mais perto do fim. Tivemos o Primeiro 5° tempo, coisa que ninguém gostou. Nossos professores, naquele momento, eram muitos e isso era muito legal. Fomos apresentados à Física, à Química e à Biologia e ali, percebemos o quanto elas eram difíceis. Passamos a ser perguntados nas ruas quando seria o próximo concurso e, mesmo sem saber a resposta, aquilo provocava uma felicidade interior. Vimos vários amigos deixando o colégio, quer seja por reprovação ou por ironia do destino, e aquilo doía também, em contrapartida, amigos foram chegando e preenchendo esse vazio.  A ordem aumentava e continuávamos a entrar em forma todos os dias. A amizade ia crescendo e passamos a sentir saudade da infância. Em um piscar de olhos... Estávamos no Ensino Médio.

Três anos que mais pareceram um só, o tempo passou com uma volatilidade tamanha. Celebramos a amizade mais do que nunca e conhecemos, realmente, nossos amigos. E os amamos desse jeito. Vimos que o passado estava longe e que ser adulto estava mais próximo do que esperávamos. Passamos por problemas, brigas, discussões e até por inimizades, mas percebemos que todas as dificuldades que tivemos até então eram mínimas quando comparadas às que teremos e que se tornariam menores ainda caso contássemos com o apoio de nossos amigos. Professores deixaram de ser simplesmente educadores e passaram a ser, muitas vezes, nossos amigos também. Conhecemos um cara que luta pelo nosso ideal, o nosso monitor.  Aprendemos a ser extremamente competitivos, a ganhar batalhas e a pensar em um caminho para seguir. Até pouco tempo éramos simples adolescentes ingênuos cujas preocupações eram apenas passar de ano e preparar a tarefa para a próxima aula, hoje em dia isso vai além do nosso próprio entendimento.

Seria bom se não tivéssemos de dizer adeus, mas o fim da nossa estadia em um dos locais que mais amamos se faz presente. Espero que cada um leve consigo uma mala singela repleta não só do aprendizado acadêmico, mas também de uma vida, VIVIDA lá dentro, nesse mundo de poucas pessoas e de vários corações. Nesse NOSSO mundo, o que construímos e o qual lembraremos sempre que pensarmos em algo reconfortante. Espero que consigamos preservar o que arrecadamos nesses 11 anos, e que quando nos reencontrarmos, façamos desse dia uma válvula de escape para o passado e que isso nos faça feliz como nunca fez. E aqui fica: um sorriso por todos os amigos que fizemos, uma lágrima por todas as batalhas que juntos vencemos e um brinde a tudo que ainda temos para viver. Então... Bebei amigos, Yo-ho!


Carlos Eduardo Pereira Freitas, Amanda Alcântara, Michelangelo Lima e Cindy Damasceno.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Música: Miami Maculelê de Recanto (2011)

Lançado em 2011, Recanto é o trigésimo disco e o mais novo trabalho de inéditas da cantora baiana Gal Costa. O álbum, proposto e composto por Caetano Veloso, reinventa o modo Gal de fazer música e veio fazer com que os críticos, que a acusavam de acomodar-se em sua música, ficassem caladinhos e observassem a magnitude do projeto da dupla. O álbum, totalmente eletrônico, embevece qualquer fã da música da cantora e demonstra a sua pluralidade. Dentre as faixas do álbum, "Miami Maculelê" é a que ganhará um certo destaque hoje. 


"Miami Maculelê", minha faixa preferida, foi idealizada por Caetano Veloso e seu filho - e afilhado de Gal - Felipe Veloso em parceria com Kassin. A música é uma referência ao funk carioca que segundo Caê: "É uma força criadora, uma vitalidade histórica arrasadora, um fato incrível na Música Popular Brasileira". A intenção era fazer com que a MPB na voz de Gal falasse respeitosamente do funk e da sua importância. 


O nome da faixa "é uma observação sobre o funk carioca ter começado pelo Miami Bass e chegado ao maculelê de Santo Amaro via umbanda", conforme afirma Caetano e continua: "Gosto imensamente da letra (os bandidos santos e a lembrança de Paulinho da Viola dando a volta por cima)".

"São Dimas, Robin Hood e o Anjo 45, todos dançando comigo"

A música cita três personalidades tão importantes para o seu entendimento. O primeiro, São Dimas, na cultura cristã, o bom ladrão, o protetor dos pobres agonizantes, sobretudo daqueles cuja conversão na última hora parece mais difícil; o segundo, Robin Hood, um herói inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres; o terceiro, Charles Fabian, o Anjo 45, ex-jogador de futebol que ganhou o apelido ao marcar, aos 45 minutos do segundo tempo, o gol que daria o Campeonato Brasileiro de 1988 ao Bahia; o futebolista foi musicado por Jorge Ben Jor na música "Charles, Anjo 45", onde a relação com as outras personalidades pode ser encontrada: "Charles, Anjo 45, protetor dos fracos e dos oprimidos, Robin Hood dos morros, rei da malandragem, um homem de verdade com muita coragem".


"Miami Maculelê" é uma daquelas faixas repletas de sutileza em que Caetano e Gal se reafirmam como uma dupla infinitamente coesa e maravilhosamente plural. A faixa pode ser conferida abaixo e faz parte do DVD Recanto Ao Vivo lançado agora em 2013.


Fontes:
  • galcosta.com.br
  • letras.mus.br/gal-costa
  • rollingstone.uol.com.br/noticia/ousadia-dessa-produção-tem-ver-com-o-nosso-dna-diz-caetano-veloso-sobre-nova-parceria-com-gal-costa/

Distância

Intenso céu de delírio, luz de imenso fulgor,
Permita-me estar ao teu lado,
Mesmo que ainda me sinta privado
De enaltecer as teses do nosso amor.

Extremo ocaso que transforma o dia,
A lonjura é como uma sequela,
Por sina dói, mas diz que é bela
A cor que antes de ti não se via.


Em 25/11/2012