sábado, 25 de maio de 2013

Crítica: O Poderoso Chefão (1972) de Francis Ford Coppola.

Impossível entrar numa roda de amigos que fala de cinema e não citar "O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972)" de Francis Ford Coppola. A trilogia é baseada no livro homônimo de Mário Puzo, o primeiro romance a demonstrar a realidade da máfia, lançado em 1969, que narra a história da família Corleone, desde a sua assunção até o seu declínio. A primeira parte da trilogia será o objeto do texto de hoje.


Don Vito Corleone (Marlon Brando) é um italiano proveniente da Sicília que se instala com sua família e, além de ter apoio político e policial, passa a comandar muitos negócios ilegais em Nova York. Ele é o padrinho que todos desejam ter, que realiza o que o afilhado necessita; em contrapartida, este fica "devendo" um favor ao seu Don, que pode nunca vir a acontecer, mas caso ocorra, não pode ser negado. Don Vito é um homem ligado à família, considera-a sagrada, a preserva e cuida dela de todos os modos. Possui cinco filhos: Santino (James Caan), o sucessor da família e mestre em "agir sem pensar"; Fredo (John Cazale), ligado a prostitutas e jogos de azar; Michael (Al Pacino), herói de guerra e totalmente "civil" quando se trata dos assuntos do pai; Connie (Talia Shire), a filha única, um amor de pessoa e totalmente histérica; e Tom Hagen (Robert Duvall), o filho adotado e consiglieri (conselheiro) do seu Don.


A história toma um rumo com o surgimento de Solozzo (Al Lettiere), o rei dos narcóticos, que, apoiado pelas outras grandes famílias, almeja instalar seu negócio nos E.U.A. e para que isso aconteça, necessita da influência de Don Vito junto a políticos e chefes de polícia controlados por ele para que sejam coniventes com o tráfico. Seco, o padrinho nega o apoio e então uma guerra entre as famílias mafiosas da América começa. O clímax está instaurado.


Entre negócios, um roteiro esplendoroso, e mais negócios, vemos o surgimento de um dos maiores personagens, a meu ver, de todos os tempos: Michael Corleone, interpretado pelo mestre Al Pacino, que apesar de ser herói de guerra e não querer participar dos assuntos da família, não consegue deixar de intervir neles. A mudança do personagem, suas ações, seu aspecto e sua frieza contribuem para o enaltecimento da personalidade de Michael e, em consequência, a formação de um dos maiores ícones do cinema gângster americano.

O roteiro, assinado por Mário Puzo e revisado por Coppola, consegue convencer já nos primeiros diálogos. A caracterização dos personagens, a demonstração crua da realidade e o texto rico em conteúdo dramático, histórico e irônico são os principais feitos da dupla. O roteiro é tão clássico que até hoje se ouve falar de alguns diálogos-chave dele como o famoso "Eu acredito na América" ou o sarcástico "Vou lhe fazer uma proposta irrecusável". 


Difícil também seria citar a obra e não falar de uma das maiores e melhores atuações de toda a história do cinema. O trabalho de voz de Marlon Brando é uma coisa de outro mundo, perfeito, sem erros, com riqueza de detalhes. As cenas em que o Don aparece sempre demonstram o seu modo "padrinho" de ser, como seus poucos sorrisos sinceros, sua explosão diante de um choro ou até o seu sofrimento com a morte. Brando foi premiado com um Oscar por essa magistral atuação, e causou polêmica ao enviar uma representante indígena para discursar em seu nome como protesto pelo modo ao qual os Estados Unidos e Hollywood discriminavam os nativos americanos.

Al Pacino também se destaca dentre os demais atores, apesar de Michael ser um personagem bastante redondo, ele consegue direcioná-lo para dentro de si, tornando as ações bastante perdoáveis, e nos faz crer que o personagem foi construído pra ele (como Coppola pensava). James Caan, em uma atuação respeitável, interpreta um Sonny demasiado revoltado que vai de encontro a um Robert Duvall, em suma, contido. Diane Keaton, em uma interpretação limpa e segura, interpreta Kay Adams, a namorada de Michael, em contrapartida, a histeria faz parte da maioria das cenas em que Talia Shire, a Connie, aparece junto ao marido.


Coppola, junto à fotografia de Gordon Willis, consegue dar um ar todo sombrio ao trabalho dos gângsters norte-americanos. A falta de luz nos ambientes em que a máfia está reunida é uma clara referência à escuridão, a sujeira e ao anonimato da "profissão". No casamento de Connie, na Sicília e na maioria das cenas familiares, a luz é o foco principal, onde o diretor deixa claro que viver bem e em família é a coisa que mais pode trazer benefícios para os mafiosos. O direcionamento dos personagens também é trabalho do diretor que o consegue fazer com maestria proporcionando ao filme quatro indicações para os atores ao Oscar de 1973 (Pacino, Brando, Duvall e Caan).

A grandiosidade do filme chega a impressionar, pois a direção impecável alinhada ao roteiro visceral e à atuações magníficas proporcionam ao amante da velha Sétima Arte um êxtase incomparável, algo extraordinário, extra-corporal. Puzo, Coppola, Brando, Pacino, enfim, todos os envolvidos na película merecem aplausos e aplausos de pé por serem responsáveis por uma das grandes obras-primas do cinema.




Nenhum comentário:

Postar um comentário