terça-feira, 28 de maio de 2013

Crítica: O Poderoso Chefão: Parte III (1990) de Francis Ford Coppola.

Dezesseis anos após a realização da Parte II da saga da Família Corleone, Coppola e Puzo se reúnem novamente, para dessa vez, fechar a trilogia. O Poderoso Chefão: Parte III (The Godfather: Part III, 1990) fala de sentimentalismo, jogos políticos com gângsters, empresários e clérigos e inaugura a luta pela redenção do protagonista.


Michael Corleone (Al Pacino) agora tenta reaver os erros do passado, mas ainda assim continua a tentar expandir seus negócios e, para tanto, resolve sair do ramo da ilegalidade e tentar limpar o nome da Família, que recentemente criou a "Fundação Vito Corleone" que se preocupa com a fome no mundo. A interação entre a Fundação e a Igreja Católica possibilita ao Cardeal Lamberto (Enzo Robutti) uma reunião onde Michael deve ajudá-lo em um déficit no Banco do Vaticano, em troca, a venda das ações majoritárias de uma das empresas mais ricas controladas pela Igreja, a "Internazionale Immobiliare". Com o negócio, as famílias americanas, se sentindo trocadas pelo agora comendador, almejam ter uma parte das ações da Immobiliare, o que causa desconforto, vários atentados e mais uma série de novos inimigos.

Sentimentalmente, Michael se sente morto. Está acabado pelo término do seu casamento com Kay Adams (Diane Keaton), procura redenção pelo que fez ao irmão Fredo e tenta educar os filhos, apesar de perder o respeito de Anthony (Franc D'Ambrosio). Suas mentiras continuam a fazer parte da rotina e, de fato, a mudança do personagem não acontece. Seu tempo está se esgotando e, Vincent Mancini (Andy Garcia), filho abastado de Santino Corleone, é o único que ainda preserva a personalidade herdada do falecido Vito, enfim, a família tem um novo Don.


O roteiro assinado novamente pela dupla Puzo e Coppola continua a mover a obra com uma magnitude gigante. O sentimental é posto em xeque, a personalidade de Michael, ainda refém da "vida da máfia" é destrinchada em público; ele queria não ter sido um gângster, mas precisava proteger quem mais amava, e isso trazia um certo preço. É impossível não comparar Michael a Vito, os caminhos escolhidos, o medo atual em troca da servidão amada de antigamente, o Don família e o Don sozinho, personagens que de início parecem ser iguais, mas se mostram completamente adversos. O ponto alto do roteiro são as cenas em que o personagem demonstra sua verdadeira fraqueza, a doença iminente, a perda que o desmonta, a passagem da chefia e a solidão que o rodeia. Roteiro grandioso para um filme grandioso, nada mais do que justo.


Apesar de Sofia Coppola (filha de Francis) ter levado o "Framboesa de Ouro" como pior atriz coadjuvante e a sua interpretação não merecer um destaque tão negativo, as atuações continuam impecáveis. Al Pacino continua a nos matar de orgulho com a tamanha força que encarna o padrinho, sem dúvidas, o personagem é dele, foi feito para ele, é inimaginável alguém no seu lugar, e o faz com tanta competência que se torna impossível colocar em palavras quão genial ele é. Andy Garcia faz o que talvez tenha sido o seu melhor trabalho até hoje, interpreta, com qualidade, o reflexo de seu pai, Sonny. Diane Keaton também imortaliza sua Kay Adams através de cenas fortes e ricas em diálogos impactantes. 


A direção de Francis Ford Coppola consegue elevar a terceira parte, o que para ele seria um epílogo, a uma terceira obra-prima, ele mostra o porquê de ser um dos diretores mais cultuados atualmente e grava o seu nome na história do cinema como um dos maiores realizadores de todos os tempos. Mestre de uma das melhores trilogias da sétima arte e senhor do submundo da "cosa nostra", Coppola consegue emocionar, tensionar e, consequentemente, nos fazer chorar por um anti-herói que continua a ser um dos maiores personagens já criados.


Há quem diga que O Poderoso Chefão Parte III é o mais fraco da saga, não ruim, apenas o mais fraco; confesso que é difícil dividir a trilogia em três filmes e dar a eles qualidades individuais, pois eles concordam entre si, convergem para o mesmo ideal e relatam, com beleza, a história da Família Corleone. 

Meus eternos agradecimentos a Mário Puzo, o criador de uma das histórias mais envolventes que já tive o prazer de presenciar; Francis Ford Coppola por ter levado a frente um ambicioso projeto e ter tornado a trilogia O Poderoso Chefão uma obra-prima; a Marlon Brando por nos ter presenteado com um padrinho imortal; e, ao meu ator favorito, meu mestre, um dos maiores do cinema, Al Pacino por ter me proporcionado um dos personagens mais intensos, por me fazer sorrir, chorar e me chatear com sua belíssima interpretação. Meus sinceros agradecimentos!


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